METAFÍSICA II – NEOPOSITIVISMO – CARNAP e WITTGENSTEIN no ENTENDIMENTO da DOR

Metafísica II: Carnap, Wittgenstein, NeoPositivismo – ENTENDIMENTO da DOR

Dando continuidade à análise da Metafísica atrelada à Medicina, vou demonstrar como o NEOPOSITIVISMO tenta explicar como o ser humano pode adentrar no íntimo do outro, a ponto de, entendendo a exclusividade do espírito de outrem, poder entendê-lo e tratá-lo. Aqui nos centraremos em analisar os passos que dois autores NEOPOSITIVISTAS deram a este entendimento.

Na Idade antiga e média, a metafísica, se referindo ao mundo das ideias de Platão, na antiguidade, ou cristão medieval, se referia a um mundo EXTERNO ao homem. Descartes, inaugurando outra fase da metafísica, a colocando INTERNAMENTE ao homem, na sua consciência, razão.

Com Wittgenstein, teríamos o por alguns chamado fim da metafísica, pois este diz que a metafísica nada mais é que um fruto da nossa inteligência expressa através de nossa linguagem.

E W., seguindo uma escola da filosofia pós Hegel, ou contemporânea, a linha chamada de NeoPositivista do círculo de Viena, entende que não se faz necessária uma metafísica platônica para explicar o mundo.

Carnap por exemplo, outro importante representante do NeoPositivismo do Círculo de Viena, no texto Empirismo, Semântica e Ontologia, contrói a ideia de Raciocinar sobre Entidades Abstratas, onde explicita que o raciocínio abstrato, vinculado a outro mundo, pelos antigos, nas verdade, se refere a conceitos não mensuráveis, como o infinito, ou a construções linguístiscas onde temos forte abstração para criarmos um raciocínio. Por exemplo numa frase como A QUNTIDADES DE SERES HUMANOS QUE JÁ PASSARAM POR ESTE PLANETA É MAIOR QUE O NÚMERO DE GRÃOS DE AREIA DE UMA PRAIA. Neste raciocínio, ou outros nesta linhas de abstração que nós construímos, usamos conceitos absolutamente impalpáveis – QUNTIDADES DE SERES HUMANOS QUE JÁ PASSARAM POR ESTE PLANETA – e – NÚMERO DE GRÃOS DE AREIA DA PRAIA – para alcançarmos uma concepção mental real e existente.

Na Obra Investigações Filosóficas, a qual aqui abordaremos, W. afirma que é a ESTRUTURA da LINGUAGEM que DETERMINA a REALIDADE. Ou seja, o significado de uma palavra se dá por seu uso na linguagem, já que é a linguagem que comunica a realidade.

Em IF, W. proclama que tudo, material ou imaterial, é linguagem. E nesta obra, o filosofo usa um exemplo médico de como é possível abstrair e entrar no “outro”, para nele intervirmos.

No parágrafo 293 de IF lê-se:

“Quando digo a mim mesmo que sei o que significa a palavra ‘dor’ apenas a partir de um caso específico – não devo também dizer isto de outros? E como posso generalizar um caso de modo tão irresponsável? Ora, alguém me diz, a seu respeito, saber apenas a partir de seu próprio caso o que sejam dores! – Suponhamos que cada um tivesse uma caixa e que dentro dela houvesse algo que chamamos de ‘besouro’. Ninguém pode olhar dentro da caixa do outro; e cada um diz que sabe o que é um besouro apenas por olhar seu besouro.”

Aqui, W explicita que, apenas pela linguagem, podemos construir a ideia de dor, mesmo sem realmente a setir. A palavra dor, independente de intensidade e localização, tem o mesmo significado para todos.

Porém, quando se avalia a privacidade advinda da palavra, entende-se ser a dor algo exclusivamente pessoal. Portanto mensurá-la é uma tarefa impossível. Então, como um médico pode tentar entender e tratar empiricamente/cientificamente outra pessoa que exclama tenho dor! à sua frente?

Escalas e algômetros, usados, demonstram o que o paciente refere, mas não o que ele sente.

Para o médico, resta crer na presença e na intensidade da dor de seu paciente. Assim se pode representar que, mesmo supondo que este médico não tenha experienciado em si mesmo a sensação dolorosa por não tê-la sofrido, ele apenas possa arguir sobre a presença ou intensidade da dor do outro e erigir um juízo correto para atuar com vistas a tratar o sintoma do paciente. Na passagem 350, W fala: “… não é nenhuma elucidação dizer: a suposição de que ele tem dores é exatamente a suposição de que ele tem o mesmo que eu.”

Então para nos propormos a tartar a dor – ou qualquer outra afecção médica -, temos que entendê-la sem que esta a nós tenha ocorrido total ou parcialmente. De alguma maneira temos que ter acesso a certa ideia que nos permita construir uma estratégia terapêutica para o sintoma presente, e sempre baseado na informação do outro – o paciente -. Poderíamos imaginar, como pintores, que ao pintarmos um quadro, se realmente seria algo possível a todos os indivíduos que a este quadro olham, enxergarem o azul do céu por mim pintado da mesma forma em que eu quis transmitir. Nas passagens 380 e 381, W sustenta que apenas a linguagem, sem a necessidade de um mundo metafísico platônico, seria suficiente para dar conta do problema do “entender o que os outros privadamente sentem”:

“Como reconheço que esta cor é vermelha? Uma resposta seria: ‘Eu aprendi português’”

Apenas a linguagem dá conta de, direcionando nosso espírito, abarcar o entendimento de o que é dor, e especificamente a dor de uma questão particular, dando assim ao médico as armas necessárias ao tratamento deste terrível sintoma.

Perto do fim do livro, na passagem XI da segunda parte, lê-se:

“Tem sentido dizer que os homens em geral estão de acordo aos seus juízos sobre dor? Como seria, se fosse diferente? – Este diria que a flor é vermelha, aquela, que é azul etc etc – Mas com que direito se poderia chamar então as palavras ‘vermelho’ e ‘azul’ daqueles homens, de nossas ‘palavras de cor’?”

 Aqui o filósofo explicita que pelo fato de sermos humanos, temos as mesmas sensações e os mesmo sentimentos, ou seja, dor e suas mais variadas intensidades e formas, é dor igual em nós todos.

 

Bibliografia:

 CARNAP, Rudolf, Empirismo, Semántica y Ontología, Revue Internationale de Philosophie 4 (1950): 20-40. Reimpreso en el Suplemento a Meaning and Necessity: A Study in Semantics and Modal Logic, edición ampliada (University of Chicago Press, 1956)

DONAT, Mirian. Linguagem e Significado nas Investigações Filosóficas de Wittgenstei: uma análise do argumento da linguagem privada, Univ. Fed. de São Carlos, CECiHum. Programa de pós-graduação em Filosofia, 2008.

HEBECHE, Luis. A Filosofia sub specie grammaticae – Curso sobre Wittgenstein, Editora UFSC.

WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações Filosóficas, 1999, Editora Nova Cultural.