METAFÍSICA II – NEOPOSITIVISMO – CARNAP e WITTGENSTEIN no ENTENDIMENTO da DOR

Metafísica II: Carnap, Wittgenstein, NeoPositivismo – ENTENDIMENTO da DOR

Dando continuidade à análise da Metafísica atrelada à Medicina, vou demonstrar como o NEOPOSITIVISMO tenta explicar como o ser humano pode adentrar no íntimo do outro, a ponto de, entendendo a exclusividade do espírito de outrem, poder entendê-lo e tratá-lo. Aqui nos centraremos em analisar os passos que dois autores NEOPOSITIVISTAS deram a este entendimento.

Na Idade antiga e média, a metafísica, se referindo ao mundo das ideias de Platão, na antiguidade, ou cristão medieval, se referia a um mundo EXTERNO ao homem. Descartes, inaugurando outra fase da metafísica, a colocando INTERNAMENTE ao homem, na sua consciência, razão.

Com Wittgenstein, teríamos o por alguns chamado fim da metafísica, pois este diz que a metafísica nada mais é que um fruto da nossa inteligência expressa através de nossa linguagem.

E W., seguindo uma escola da filosofia pós Hegel, ou contemporânea, a linha chamada de NeoPositivista do círculo de Viena, entende que não se faz necessária uma metafísica platônica para explicar o mundo.

Carnap por exemplo, outro importante representante do NeoPositivismo do Círculo de Viena, no texto Empirismo, Semântica e Ontologia, contrói a ideia de Raciocinar sobre Entidades Abstratas, onde explicita que o raciocínio abstrato, vinculado a outro mundo, pelos antigos, nas verdade, se refere a conceitos não mensuráveis, como o infinito, ou a construções linguístiscas onde temos forte abstração para criarmos um raciocínio. Por exemplo numa frase como A QUNTIDADES DE SERES HUMANOS QUE JÁ PASSARAM POR ESTE PLANETA É MAIOR QUE O NÚMERO DE GRÃOS DE AREIA DE UMA PRAIA. Neste raciocínio, ou outros nesta linhas de abstração que nós construímos, usamos conceitos absolutamente impalpáveis – QUNTIDADES DE SERES HUMANOS QUE JÁ PASSARAM POR ESTE PLANETA – e – NÚMERO DE GRÃOS DE AREIA DA PRAIA – para alcançarmos uma concepção mental real e existente.

Na Obra Investigações Filosóficas, a qual aqui abordaremos, W. afirma que é a ESTRUTURA da LINGUAGEM que DETERMINA a REALIDADE. Ou seja, o significado de uma palavra se dá por seu uso na linguagem, já que é a linguagem que comunica a realidade.

Em IF, W. proclama que tudo, material ou imaterial, é linguagem. E nesta obra, o filosofo usa um exemplo médico de como é possível abstrair e entrar no “outro”, para nele intervirmos.

No parágrafo 293 de IF lê-se:

“Quando digo a mim mesmo que sei o que significa a palavra ‘dor’ apenas a partir de um caso específico – não devo também dizer isto de outros? E como posso generalizar um caso de modo tão irresponsável? Ora, alguém me diz, a seu respeito, saber apenas a partir de seu próprio caso o que sejam dores! – Suponhamos que cada um tivesse uma caixa e que dentro dela houvesse algo que chamamos de ‘besouro’. Ninguém pode olhar dentro da caixa do outro; e cada um diz que sabe o que é um besouro apenas por olhar seu besouro.”

Aqui, W explicita que, apenas pela linguagem, podemos construir a ideia de dor, mesmo sem realmente a setir. A palavra dor, independente de intensidade e localização, tem o mesmo significado para todos.

Porém, quando se avalia a privacidade advinda da palavra, entende-se ser a dor algo exclusivamente pessoal. Portanto mensurá-la é uma tarefa impossível. Então, como um médico pode tentar entender e tratar empiricamente/cientificamente outra pessoa que exclama tenho dor! à sua frente?

Escalas e algômetros, usados, demonstram o que o paciente refere, mas não o que ele sente.

Para o médico, resta crer na presença e na intensidade da dor de seu paciente. Assim se pode representar que, mesmo supondo que este médico não tenha experienciado em si mesmo a sensação dolorosa por não tê-la sofrido, ele apenas possa arguir sobre a presença ou intensidade da dor do outro e erigir um juízo correto para atuar com vistas a tratar o sintoma do paciente. Na passagem 350, W fala: “… não é nenhuma elucidação dizer: a suposição de que ele tem dores é exatamente a suposição de que ele tem o mesmo que eu.”

Então para nos propormos a tartar a dor – ou qualquer outra afecção médica -, temos que entendê-la sem que esta a nós tenha ocorrido total ou parcialmente. De alguma maneira temos que ter acesso a certa ideia que nos permita construir uma estratégia terapêutica para o sintoma presente, e sempre baseado na informação do outro – o paciente -. Poderíamos imaginar, como pintores, que ao pintarmos um quadro, se realmente seria algo possível a todos os indivíduos que a este quadro olham, enxergarem o azul do céu por mim pintado da mesma forma em que eu quis transmitir. Nas passagens 380 e 381, W sustenta que apenas a linguagem, sem a necessidade de um mundo metafísico platônico, seria suficiente para dar conta do problema do “entender o que os outros privadamente sentem”:

“Como reconheço que esta cor é vermelha? Uma resposta seria: ‘Eu aprendi português’”

Apenas a linguagem dá conta de, direcionando nosso espírito, abarcar o entendimento de o que é dor, e especificamente a dor de uma questão particular, dando assim ao médico as armas necessárias ao tratamento deste terrível sintoma.

Perto do fim do livro, na passagem XI da segunda parte, lê-se:

“Tem sentido dizer que os homens em geral estão de acordo aos seus juízos sobre dor? Como seria, se fosse diferente? – Este diria que a flor é vermelha, aquela, que é azul etc etc – Mas com que direito se poderia chamar então as palavras ‘vermelho’ e ‘azul’ daqueles homens, de nossas ‘palavras de cor’?”

 Aqui o filósofo explicita que pelo fato de sermos humanos, temos as mesmas sensações e os mesmo sentimentos, ou seja, dor e suas mais variadas intensidades e formas, é dor igual em nós todos.

 

Bibliografia:

 CARNAP, Rudolf, Empirismo, Semántica y Ontología, Revue Internationale de Philosophie 4 (1950): 20-40. Reimpreso en el Suplemento a Meaning and Necessity: A Study in Semantics and Modal Logic, edición ampliada (University of Chicago Press, 1956)

DONAT, Mirian. Linguagem e Significado nas Investigações Filosóficas de Wittgenstei: uma análise do argumento da linguagem privada, Univ. Fed. de São Carlos, CECiHum. Programa de pós-graduação em Filosofia, 2008.

HEBECHE, Luis. A Filosofia sub specie grammaticae – Curso sobre Wittgenstein, Editora UFSC.

WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações Filosóficas, 1999, Editora Nova Cultural.

 

A medicina, assim como as demais profissões da saúde, em sendo profissões técnicas, apresentam um forte viés científico, além de um não menos intenso lado não científico (artístico, filosófico). Aqui, frente ao escrito do genial filósofo da ciência Thomas Khun, pudemos nos debruçar em analisar o lado dito científico e a fragilidade dos paradigmas, advindos deste cientificismo, que norteiam a condução das nossas técnicas MÉDICAS na condução da saúde do homem.

A Estrutura das Revoluções Científicas, uma análise:

 

O cientista se preocupa em entender o mundo e sua ordem, e daí a necessidade de se valer de uma rígida avaliação empírica dos fatos.

E dentro destas avaliações empíricas, eventualmente o cientista se depara com anomalias, que podem necessitar de uma nova abordagem.

Esta necessidade de revelar a natureza do mundo frente à sua ciência, permite ao cientista concentrar-se com segurança nos problemas de difícil compreensão (esotéricos), quando contrapostos às regras e conhecimentos existentes. E neste escopo é que ocorre um desenvolvimento gradativo científico: pequenas contribuições dos cientistas, mas sempre adicionadas ao antes definido arcabouço da ciência.

Porém, encontra-se dificuldade em estabelecer o que se considera o conceito de desenvolvimento-por-acumulação como a mola mestra da ciência. Questiona-se se a ciência não se desenvolva por invenções individuais. Muitas verdades científicas antigas, hoje, são tidas como mitos, ou seja, a verdade atual não é um acúmulo à verdade antiga, mas uma substituição àquela. Assim é difícil conceber a ciência como a se esta sempre está a se desenvolver por um processo de acréscimo. Uma nova teoria nunca é um mero incremento do que já se havia definido. Sua assimilação requer reconstruir e reavaliar teorias e fatos anteriores.

“A partir do momento que um paradigma se estabelece, não há mais a necessidade de um cientista começar, quando dos seus trabalhos, pelos primeiros princípios e justificar os conceitos por ele usados. Isto ficaria sendo necessário de se realizar apenas pelos autores de manuais.”

Revoluções científicas devem dar-se somente aos que são diretamente afetados pelo paradigma a ser quebrado. As mudanças paradigmáticas da ciência se assemelham muito às mudanças políticas, quando se estabelece que em ambas ocorre o abandono parcial de um conjunto de instituições (conceitos/teorias) em detrimento de outras.

“Porém a aquisição cumulativa de novidades é uma exceção quase inexistente à regra do desenvolvimento científico. A evolução científica NÃO TEM caráter cumulativo.”

A pesquisa normal É cumulativa, mas NÃO É cumulativa a evolução da ciência. As novidades daquela ciência só podem surgir se as técnicas, conceitos e instrumentos daquela ciência demonstrarem estar equivocados, o que levaria a questionamentos, dúvidas, o que poderia culminar com uma quebra de paradigma. Descobertas só podem ocorrer frente à quebra de paradigmas. Não há outra maneira eficaz!

As diferenças entre paradigmas sucessivos são úteis e necessárias, e requerem a redefinição da ciência correspondente. Problemas científicos antigos são descartados, reformulados, ou rotulados como pseudociência.

Guiados por novos paradigmas, cientistas adotam novos instrumentos e orientam seu olhar em nova direção. Aquilo que antes, no mundo do cientista, era “x”, agora é “y”. Daí, em ciência, algo como um paradigma é fundamental à percepção uniforme. Quebrado um paradigma, os cientistas passam a “viver em um mundo diferente”, onde o antigo “x” é o novo “y”.

A ciência que surge após uma revolução científica inclui muitas das manipulações realizadas com os mesmos instrumentos e descritas empregadas pela ciência pré revolução. Os manuais científicos se referem apenas àquelas partes dos antigos cientistas (referentes à história da ciência e que a executavam frente aos paradigmas desta ciência relativos às suas épocas) somente se estes auxiliam na compreensão e na solução dos problemas pertinentes ao novo paradigma existente nestes manuais. E é devido a este fato de ter-se que reescrever os manuais frente aos novos paradigmas, a ciência aparece como cumulativa.

Os manuais que perpetuam a ciência são reescritos frente a uma mudança de paradigmas, dissimulando a própria revolução que o produziu. Estes manuais fornecem uma substituição àquilo que eliminaram. Uma vez que ao se esquecer dos “heróis do passado”, os cientistas estão esquecendo (ou no máximo revisando) seus trabalhos, isto também contribui a fazer crer que a história da ciência é linear e cumulativa.

Não existe, nestes manuais, uma conclusão referente ao progresso científico, mas eles se definiram como tal por haver uma estrutura essencial de evolução contínua na ciência. Como antes dito, ciência evolui e assim progride. O progresso é um atributo óbvio da ciência/tecnologia. “Um campo de estudos progride por ser uma ciência ou é uma ciência porque progride?”

Um empreendimento dito “ciência normal” deve progredir porque os membros de uma comunidade científica amadurecida trabalham a partir de um único paradigma e o resultado disto é o progresso. Os membros desta comunidade, são os únicos capazes de julgar algo pertinente a uma área da ciência de maneira inequívoca. Um grupo desta natureza deve considerar a mudança de paradigmas como um progresso.

Mas talvez o progresso científico não seja exatamente o que acreditamos ser. Apesar de haver algum progresso caracterizando o empreendimento científico, outro progresso não se faz, necessariamente, nas ciências, quando da sua aplicação. Temos que abandonar a ideia que a mudança de um paradigma levar-nos-á inexoravelmente à verdade.

O processo da ciência se caracteriza por uma compreensão cada vez mais definida e detalhada da natureza. Mas não necessariamente levará a algo. Se pudermos substituir a evolução-a-parir-do-que-sabemos por evolução-em-direção-ao-que-queremos-saber, diversas ansiedades desaparecerão no processo científico.

Teri Roberto Guérios

Bibliografia

CUPANI, A. O.; Filosofia da ciência; Florianópolis: FILOSOFIA/EAD/UFSC, 2009. 206p.

KUHN, T. S.; A estrutura das revoluções científicas; Tradução Beatriz Vianna Boeira e Nelson Boeira, 1998, Editora Perspectiva.

 

 

 

 

Uma reflexão sobre o livro – GENEALOGIA DA MORAL – A Origem da moral, segundo a concepção pós-moderna de NIETZSCHE: uma conclusão baseada na historicidade, eliminando-se as virtudes aristotélicas, o utilitarismo de Stuart Mill e as obrigações kantianas como os geradores do “ser ético” no homem.

Na pós-modernidade, o entendimento da ética se centrara no abandono em se identificar um ponto central para se definir uma única moral, imutável. Passa-se a identificar que múltiplos grupos sociais têm diferentes moralidades.

E dentro desta nova abordagem pós-moderna, Nietzsche é tido com um dos primeiros grandes pensadores, tendo uma tese central em que a moralidade precisa ser explicada de forma a serem excluídas as vontades não-racionais. Tais racionalidades, traduzidas na forma de interesses, são, de fato para Nietzsche, os condutores das inúmeras morais de muitos povos.

Na busca de uma explicação genealógica da moral humana, Nietzsche parte de uma análise filológica da origem dos termos bom/mau(ruim) e bem/mal. E, a partir de seus estudos, descobre que o entendimento do que se chama de bom não necessariamente vem dos que praticam ações ditas do bem. Foram os ditos bons (nobres, poderosos, superiores em posição e pensamento) que definiram que o que eles praticavam fossem classificados como atos bons, enquanto que os atos oriundos do povo, do populacho, seriam os atos maus. Aqui temos, pois, por Nietzsche, definida a origem da oposição bom/ruim.

O pensador ainda estabelece que o direito do poderoso, do dominador, vai tão pregressamente, que a própria linguagem, nas suas origens, se valeu do poder deste dominante na sua construção, a ponto de bom sempre estar ligado ao nobre, ao correto.

Neste escopo, o filósofo alemão coloca que os conceitos bem/mal (moral dos fracos), diferentemente de bom/mau (moral dos fortes), seria uma moral não natural, imposta pelos ineptos, que não podem lutar pelo que é bom exatamente por serem fracos. Esta moral deles emerge como uma força apoiada no conceito de “minorias oprimidas” e/ou sustentadas pela moral religiosa (no ocidente a moral judaico-cristã), propalando ser o que faz o bem e não o que é bom, o conceito a nortear a moral e a cultura de uma sociedade, bem como o caminho à felicidade individual.

Nietzsche afirma que a análise das palavras bom/mau(ruim) e bem/mal, coubera antes apenas, e de maneira parcial, aos psicólogos ingleses. Esta foi então, a única tentativa feita para elaborar uma história da moral, sendo que ditos psicólogos ingleses atrelavam-na a utilidade e, a isto, Nietzsche corrobora, mas não totalmente, erigindo daí uma crítica.

À origem do moralmente bom/ruim dar-se como que emanando do que é útil, sua crítica apoia-se em uma citação do filósofo Hebert Spencer (que Nietzsche cita no Primeiro Tratado de sua obra Genealogia da Moral) e sua teoria lógica que afirma que “bom” e “útil” são essencialmente semelhantes. O “bom” é o “útil” adaptado. “É ‘bom’ aquilo que sempre se revelou ‘útil’”. Nietzsche explica melhor seu ponto de vista crítico ao utilitarismo, colocando que quando as ações “úteis” passam a ser corriqueiras, não deixam, por isto, de serem “úteis” apenas por passarem ao plano do costumeiro: “essa utilidade foi experiência cotidiana em todas as épocas e portanto continuadamente enfatizado, firmando-se na consciência de maneira sempre mais forte. … conceito de bom como essencialmente igual a útil, conveniente, de modo que bom e ruim a humanidade teria sancionado em suas experiências inesquecidas acerca do útil/conveniente e do nocivo/inconveniente.” (Genealogia da Moral – Primeiro Tratado). Bom = Útil.

Necessário destacar ainda, sobre a conexão bom/aristocrático e mau/populacho, que afirma que o nobre, aristocrático, assim socialmente classificado, é a origem do que hoje se chama de bom. O que é bom, entende-se por espiritualmente virtuoso, eminente, honrado, superior, de uma origem nobre, bem nascido, aristocrata. Já, segundo a análise filológica de Nietzsche, o ruim, pela raiz filogenéticas do termo mau, liga-se ao inepto, mentiroso, inferior.

Portanto, o ponto de vista da utilidade é insuficiente e inaplicável quando se trata da fonte viva dos juízos de valor supremos que fixam e determinam a hierarquia bom/mau(ruim). De fato foi o sentimento e não a utilidade. Por Nietzsche: “…repito, a consciência da superioridade e da distância, o sentimento geral, fundamental e constante de uma espécie superior e dominadora, em oposição a uma espécie inferior e baixa que originou a oposição entre “bom” e “mau”.” (Genealogia da Moral – Primeiro Tratado)

A pesquisa histórica de Nietzsche sobre a origem da moral, o levou a concluir que a moral é uma ideologia baseada numa ilusão: um conjunto de conceitos explicáveis não porque é válido pela racionalidade (Kant), mas sim porque serve a diferentes interesses práticos.

 

Bibliografia:

Dall’Agnol, D, Ética, Filosofia/EaD/UFSC, 2008.

Nietzsche, F. W., Genealogia da moral: uma polêmica; tradução, notas e posfácio Paulo César de Souza. — São Paulo : Companhia das Letras, 2009.

 

 

Teri Roberto Guérios

 

 

Palestra: ÉTICA

INTRODUÇÃO

 

 

O Qué é FILOSOFIA

 

A palavra, explorando os radicais gregos que a originam, faz-nos entender literalmente a apalavra como amigo do conhecimento.

E tudo iniciou-se com um grego do séc. VII a.c., Tales de Mileto, que certa feita começou a se questionar de que, diferente do vigente à época onde todas as dúvidas humanas eram respondidas invocando-se um deus como causador de tal e tal fenômeno questionado, deveria haver uma causa razoável para os fenômenos do mundo (physis). Assim inicia-se a investigação através da razão, pelos fenômenos do mundo. Sócrates, posteriormente, aplica esta mesma investigação a temas humanos (o bem, o belo, etc.). E assim o conhecimento humano se dividiu em DOGMÁTICO (religioso) e FILOSÓFICO (investigação racional empírica) até o séc XVI. Aqui, Galileu, alargando o conhecimento empírico filosófico, estabeleceu a prova científica como importante a atestar um conhecimento. Surge então a ciência como a terceira via do conhecimento, o CIENTÍFICO.

O termo ÉTICA deriva do grego ethos e refere-se a hábito ou costume. Desde a mais antiga história humana existem estudos e pensamentos éticos, mas a avaliação sistemático do que seria ÉTICA, se inicia com Sócrates, e posteriormente acrescentada pelo pensamento de seu discípulo Platão e mais à frente, Aristóteles.

Na maioria das escolas filosóficas, ética e moral referem-se à mesma ideia, ou seja, ambos os termos atrelam-se uma investigação filosófica sobre a conduta boa ou má, certa ou errada.

Uma definição dos termos muito utilizada em filosofia é a que estabelece ÉTICA como ESTUDO FILOSÓFICO da MORAL.

Mas talvez a visão mais didática define os termos assim: moral seria uma questão pessoal, da esfera privada, enquanto ética teria um escopo mais institucional, ancorando-se, por exemplo, nas leis ou nos conhecidos CÓDIGOS DE ÉTICA.

Neste trabalho serão abordadas as definições gerais da ética e, estando estas definidas, citar-se-ão suas conexões com a Engenharia.

 

 

DESENVOLVIMENTO

 

Quando do estudo filosófico da Moral, a Ética é subdividida em METAÉTICA, onde, por exemplo SER ÉTICO É BUSCAR o BEM; Ética NORMATIVA, onde a) por exemplo este BEM só é eticamente atingindo sendo-se virtuoso ou b) seguindo-se as normas ou ainda c) tomando-se a atitude mais correta possível em uma situação, de modo a se promover o máximo BEM.

Assim temos as ter grandes escolas Normativas da Ética:

i) Ética das Virtudes, cujo expoente é Aristóteles;

ii) Ética Consequencialista ou Utilitarista, cujo expoente máximo é Stuart Mill;

iii) Ética Deontológica, cujo expoente é Kant.

Por fim temos a Ética APLICADA, onde, depois de devidamente depuradas, aplicam-se as definições advindas da Ética NORMATIVA.

Exemplos: a Bioética, a Ética do Meio Ambiente.

Exploraremos superficialmente, especificamente, os três representantes da Ética Normativa acima citado:

  1. Aristóteles defendia que somente em sendo virtuoso poder-se-ia ser Ético. Para entender esta Ética, temos, portanto, de entender o que torna alguém uma pessoa virtuosa. As virtudes são sabedoria, justiça, coragem e temperança. E tendo estes em seu caráter, o indivíduo é bom. Em se fazendo o bem, seremos um indivíduo ético. A Ética, agindo-se corretamente, gera como fim a felicidade.
  2. John Stuart Mill, que se inspirou e depurou o princípio inaugurado por Bentham, defendia a utilidade ou princípio da maior felicidade. Considerava que uma ação é correta se esta ação incrementa a felicidade; e a condena se a ação a diminui. Assim, sob este prisma, poder-se-ia por em teste a legitimidade das leis, das instituições públicas, das formas de governo e de suas políticas sociais e econômicas. Aqui também, o agir ética e corretamente gera a felicidade.
  3. Em Kant, o filósofo Moral mais famoso, deve-se agir por puro respeito ao dever moral como fundamento. E aqui faz-se premente se definir o que é agir conforme o dever: ter uma Vontade Boa (ou Boa Vontade) é agir conforme o dever, em Kant, pelo puro dever, onde este dever é o fundamento moral. Cumprir deveres motivado pela Vontade Boa é agir virtuosamente e, como tal, ser digno de felicidade. Em Kant, então, apenas fazendo-se o que deve ser feito é que seremos felizes.

 

Teri Roberto Guérios 

 

DESCARTES: uma tentativa de definir as CAUSAS (ou como se dá) do CONHECIMENTO

DISCURSO do MÉTODO

SEGUNDA PARTE Considerei ser necessário buscar algum método que, contendo as vantagens de outros três, estivesse desembaraçado de seus defeitos. Achei que me seriam suficientes os quatro seguintes, uma vez que tornasse a firme e inalterável resolução de não deixar uma só vez de observá-los:

primeiro era o de nunca aceitar algo como verdadeiro que eu não conhecesse claramente como tal; ou seja, de evitar cuidadosamente a pressa e a prevenção, e de nada fazer constar de meus juízos que não se apresentasse tão clara e distintamente a meu espírito que eu não tivesse motivo algum de duvidar dele;

segundo o de repartir cada uma das dificuldades que eu analisasse em tantas parcelas quantas fossem possíveis e necessárias a fim de melhor solucioná-las;

terceiro o de conduzir por ordem meus pensamentos, iniciando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para elevar-me, pouco a pouco, como galgando degraus, até o conhecimento dos mais compostos, e presumindo até mesmo uma ordem entre os que não se precedem naturalmente uns aos outros;

quarto o de efetuar em toda parte relações metódicas tão completas e revisões tão gerais nas quais eu tivesse a certeza de nada omitir.

MEDITAÇÕES

PRIMEIRA MEDITAÇÃO – Das Coisas que se Pode Colocar em Dúvida

1- Com o amadurecimento, Descartes se apercebeu que os princípios que ele acreditava serem os norteadores de suas idéias, não poderiam ser infalíveis, e portanto eram passíveis de estarem errados.

2- Então, o autor decide não por provar a falsidade destes princípios, mas rejeitar as impressões advindas dos sentidos e que erigiram estes princípios, promovendo como única ferramenta confiável a se interpretar e conceituar o mundo a razão.

3- Aqui então, Descartes deixa estabelecido que, em tal empreitada, valer-se-á apenas da razão, relegando às impressões apreendidas pelos sentidos o julgamento da dúvida.

4- Nesta altura, Descartes começa a demonstrar que mesmo coisas apreendidas pelos sentidos e normalmente inquestionáveis, devem ser levadas ao tribunal da dúvida.

5- Cita, por exemplo, situações vívidas pessoais, onde não havia nenhum sinal capaz de diferenciar entre a vigília e o sono, de uma situação real ou de sonhos.

6- Então Descartes realiza um exercício mental onde, supondo estar dormindo, define que as coisas que fixam outras, como a imagem de uma parte de nosso corpo, por ex., são de fato uma “reprodução mental”, e se baseiam em uma imagem anteriormente conhecida real e verdadeira. Ou seja, imagens de sonhos seriam como “pinturas” ou “gravuras” de coisas reais e levanta a possibilidade do mundo real assim o ser.

7- Continua ele, mesmo que as formas corpóreas, por exemplo, fossem imaginárias, algo, sem dúvida não o seria: as definições com as quais nos apoiamos para caracterizar outras coisas e que são a natureza corpórea de algo, a extensão deste algo, sua grandeza, sua quantidade, as medidas relativas ao tempo e ao espaço.

8- Daí ele conclui que ciências não puras, como a Astronomia, a Medicina, serem afeitas à dúvida mais que as puras, tais como a Aritmética ou a Geometria.

9- Descartes declara que Deus criou tudo, mas aventa a possibilidade de, em verdade, Deus, dentro de seu poder, não ter criado nada do que o homem apreende, mas apenas dado a este homem a faculdade de se aperceber do que este Deus define que deva ser percebido.

10- Mas Descartes contrapõem esta hipótese à suprema bondade e perfeição de Deus e não considera isto como um hipótese válida, pois Ele não é enganador .

11- Tendo a certeza de que sua linha de pensamentos segue em correta direção, Descartes decide entregar-se à meditação.

12- Começa, então com o pressuposto de que existe um ser poderoso e que buscará sempre enganar o homem acerca de suas impressões a quem ele nomina Gênio Maligno. Este ser valer-se-á da criação de ilusões acerca do mundo na tentativa de captar, com estas ilusões, a credulidade dos homens. Este Gênio Maligno será o criador, gerente e manipulador de todas as sensações e pensamentos do homem.

13- E este homem sentir-se-á muito mais à vontade sob os desmandes deste Gênio Maligno que sob seu próprio comando, quiçá por preguiça.

MEDITAÇÃO SEGUNDA – Da Natureza do Espírito Humano; E de como Ele é Mais Fácil de Conhecer do que o Corpo

1- Inicia esta parte reforçando seu intuito de continuar a linha de raciocínio anterior.

2- Sua aposta em seu raciocínio mostra-se cheia de esperança.

3- Na sua suposição, então, como erigida no fim da Primeira Meditação, todas as coisas são falsamente percebidas pelo homem, e tudo é uma ficção do espírito deste homem. Então o que poderá ser tido como verdadeiro?

4- O homem questiona se é real, já tendo Descartes definido que ele não tem corpo e nem sentidos. No entanto, a partir desta dúvida, o homem se define como existente pois, se ele pôde pensar nas dúvidas antes colocadas, é porque existe o ser que pensa e aqui este ser é nosso homem. Então, mesmo que todas as impressões do homem sejam apenas fruto da criação do Gênio Maligno, sua única certeza é que existe, não é um fruto deste Gênio Maligno. É capaz de pensar na sua existência.

5- O homem sabe que é mas não sabe, ainda, o que é.

6- Por definição de corpo, inicia dizendo que é algo que se limita a uma figura, que ocupa lugar no espaço, que pode ser sentido pelo tato, movimentado.

7- Reforça a malícia e o ardil do Gênio Maligno. E devido a isto questiona-se se ele, o homem, possui algum predicado corpóreo. Devido à dificuldade de se definir algo referente ao corpo, Descartes passa a investigar a alma. Define que, sendo o pensar um atributo da alma, e este pensar não pode ser separado do ser que pensa, e este ser, para pensar tem que existir, define: Eu Sou, Eu Existo. Portanto, é seguro de que é alguma coisa.

8- Reforça aqui que a certeza maior dele é que sabe que é.

9- Sabe que é uma coisa que pensa. E define que se pode e deve duvidar, mas nunca recorrer à imaginação, pois tudo que advém desta é eliminado pela ferramenta inicialmente usada, qual seja, a dúvida.

10- Mostra o porque para ele, Descartes, é mais fácil se conhecer as coisas espirituais que as apreendidas pelos sentidos: seu espírito tende a investigar além do que é óbvio, além do que é apenas captado pelos sentidos.

11- Inicia, para ilustrar o acima dito, considerando um pedaço sólido de cera.

12- Ao derretê-la, a forma, o odor, a consistência mudam, mas não seu volume. Houve uma mudança no corpo, mas continuaremos em com um volume de cera.

13- A única relação da porção inicial de cera com porção derretida e disforme, dá-se através do espírito. Ele tem o atributo de fornecer ao intelecto as características iniciais e finais do corpo antes sólido e agora derretido.

14- Permanece, portanto, a idéia de cera. E esta conclusão só é possível de se apreender pelo espírito.

15- Reconhece que, até aqui, definiu que o objeto em questão era cera pois, ao percebê-lo com seus sentidos, pôde assim classificá-lo. E disso não duvidaria. Mas a percepção dos sentidos só é possível sob a anterior compreensão do reconhecimento a partir do pensamento. Ou seja, da detecção, a partir da razão, de uma idéia clara acerca do ser a ser reconhecido.

16- Descartes afirma que se ele pode conceber de maneira nítida que um pedaço de cera existe, usando a mesma razão e pela mesma via pode também definir sua própria existência. Se segue: “se eu penso a partir do espírito, mas penso em coisas que toco ou vejo, estes atos reforçam o meu existir, pois necessita-se existir para agir”.

17- Disto, apreende-se que o espírito existe, o pensamento é fruto deste espírito, e a razão, que nele habita, será por ele ativada. Capta-se, então, que este espírito existe.

18- Concluindo, Descartes mostra que corpos só podem ser reconhecidos, como antes demonstrado, pela razão e não exclusivamente pelos sentidos. Então, como o ato de conhecer verdadeiramente algo dar-se-á pela razão e nunca pelos sentidos, o espírito é pois pronta e facilmente reconhecido.

 

Teri Roberto Guérios